Cadeia de frio: refrigeração para alimentos está virando um negócio "quente" com a crise do clima

VP de Operações da Emergent Cold, maior do ramo na América Latina, aborda efeitos do aquecimento global no setor e as estratégias da empresa para mitigar impactos ambientais

Foto: Pexels -

A cadeia de frio é crucial para manter a qualidade e a segurança de alimentos e medicamentos ao longo da jornada do produtor ao consumidor. Em um mundo mais quente e em crise climática, o papel das empresas desse setor tende a ganhar importância – tanto para a segurança alimentar quanto pela pegada ambiental do segmento, que tem consumo intensivo de energia e alta emissão de gases de efeito estufa, além de compostos nocivos à camada de ozônio.

Há uma intricada logística, que vai do transporte, armazenagem, carga e descarga até os pontos de distribuição e venda. Tudo demandando uniformidade da temperatura, fundamental para garantir a integridade do produto – seja o iogurte que você compra no mercado ou a vacina dos postos de saúde. Pensar a sustentabilidade na cadeia do frio exige uma abordagem integral, desde as substâncias refrigerantes usadas até a eficiência energética dos sistemas.

Em tempos de aquecimento, a chamada cadeia de frio está virando um negócio “quente”. Movimentando cerca de 270 bilhões de dólares em 2023, o mercado global do setor deve chegar a US$ 890 bilhões até 2030, de acordo com estudo conduzido pela Grand View Research, Inc.

Combinação de boas práticas e inovação tecnológica são caminhos que a maior empresa de armazenamento refrigerado da América Latina e sexta maior do mundo, a Emergent Cold, tem tomado para atravessar os novos tempos e ainda crescer, à medida que a busca por soluções confiáveis e eficientes de cadeia fria aumenta.

Zero Carbon

A empresa, que completa três anos neste mês de agosto, tornou-se a primeira do setor a receber a certificação EDGE Zero Carbon, um reconhecimento global de sustentabilidade aplicado a edifícios industriais. Situada no Chile, a planta teve as emissões de carbono neutralizadas e 100% da energia utilizada provém de fontes renováveis. Monitoramento operacional inteligente do edifício também reduziu em 40% o consumo de energia e em 50% o de água.

Em entrevista ao Um Só Planeta, Ricardo Jacob, vice-presidente de Operações da Emergent Cold Latam, aborda o impacto do aquecimento global na demanda por refrigeração industrial, especialmente no setor de armazenamento de alimentos, e as estratégias para mitigar os impactos ambientais, dado que a infraestrutura de armazenamento a temperatura controlada é intensiva no consumo energético.

A refrigeração industrial é um elemento vital na indústria de alimentos. Como a demanda pelo serviço aumentará em um futuro assombrado pelo aquecimento global?

Ricardo Jacob: Apesar de ainda não haver estimativas concretas de quanto seria o crescimento da demanda com base especificamente no aumento das temperaturas médias globais, é fato que as mudanças climáticas devem ampliar a necessidade de infraestrutura a temperatura controlada para a preservação de alimentos durante toda a cadeia.

O aumento populacional e, consequentemente, da demanda global por alimentos, é outro fator que gera a necessidade de ampliação da capacidade de armazenamento de produtos alimentícios a temperatura controlada.

Ricardo Jacob: Segundo o Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024 do PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a perda e o desperdício de alimentos geraram de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) – quase 5 vezes mais do que o setor de aviação.

Este cenário mostra como a indústria de armazenamento de alimentos a temperatura controlada é, em sua essência, uma importante aliada na redução das emissões de gases de efeito estufa ao contribuir diretamente com a redução do desperdício global de alimentos.

Tendência no setor

Outra parte importante é o movimento das empresas na busca pela redução das emissões em suas operações, a exemplo do que a Emergent Cold tem feito em suas unidades. Essas iniciativas incluem o desenvolvimento de tecnologias de refrigeração mais eficientes, o uso de sistemas de armazenamento a temperatura controlada mais sustentáveis, a otimização da cadeia de frio na distribuição de alimentos e a promoção de práticas de gestão de inventário mais eficientes, também otimizando os recursos utilizados em toda a cadeia de suprimento de alimentos .

O setor também está empenhado na revisão da temperatura padrão global estabelecida para o armazenamento de alimentos congelados, que é de -18°C. Uma pesquisa intitulada The Three Degrees of Change, coordenada pelo Centro para Refrigeração Sustentável do Instituto Internacional de Refrigeração, apontou que uma simples alteração na temperatura de preservação de alimentos para -15°C pode ser a chave para um futuro mais verde e econômico.

Segundo os pesquisadores, aumentar a temperatura dos armazéns frigoríficos em apenas 3 graus Celsius de sua temperatura atual não constitui nenhum risco para a integridade de muitos alimentos. Além disso, os dados apontam que tal ação eliminaria a emissão de 17,7 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono por ano.

Quais as contribuições e o papel da indústria de refrigeração para o atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, o Acordo de Paris e o Protocolo de Montreal, juntamente com a Emenda de Kigali (que trata do combate aos HFCs)?

Ricardo Jacob: Em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a indústria de armazenamento de alimentos a temperatura controlada tem contribuição diretas em vários deles, incluindo erradicação da fome, saúde e bem-estar, inovação e infraestrutura, cidades e comunidades sustentáveis, consumo e produção responsáveis e ações contra a mudança global do clima.

Como eu comentei anteriormente, as empresas do setor têm uma importante contribuição para os esforços de redução do desperdício de alimentos no mundo, além de investirem em operações mais eficientes e sustentáveis para amplificar ainda mais esse impacto positivo.

Nos temas relacionados à emissão de gases, a indústria tem optado pelos sistemas de refrigeração com gases naturais. Eles têm excelentes propriedades termodinâmicas e alta eficiência na transferência de calor, gerando baixo impacto ambiental e sem potencial de danos à camada de ozono. São compatíveis com uma variedade de sistemas de refrigeração e lubrificantes a um baixo custo operacional.

O que há de mais inovador e eficiente em energia para a indústria de refrigeração?

Ricardo Jacob: A inovação nessa indústria em termos energéticos ocorre quando muda-se a configuração fixa de condições de operação dos equipamentos para uma forma móvel para aproveitar as oportunidades que a geração renovável solar na planta oferece, com uma energia muito mais barata, onde você deve aproveitá-la ao máximo.

Fonte: Vanessa Oliveira / Um Só Planeta

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