
Por Fernanda Zandonadi
Um estudo publicado na Nature Communications,em agosto de 2025, revelou que a chamada “Cidade Perdida da Amazônia”, no Vale do Upano, Equador, deixou marcas profundas e duradouras nos ecossistemas locais. Pesquisadores analisaram sedimentos do Lago Cormorán, a apenas 10 km do complexo arqueológico, e reconstruíram 2.770 anos de história ecológica.
As evidências mostram que os povos que ocuparam a região, entre 700 a.C. e 550 d.C., cultivavam milho, mandioca, feijão, abóbora e até árvores frutíferas, utilizando práticas como corte e queima, cobertura morta e silvicultura. O uso intensivo de espécies como o Alnus, que fixa nitrogênio no solo, alterou a composição das florestas.
Após séculos de ocupação, houve um abandono do local por volta de 550 d.C., possivelmente relacionado a mudanças climáticas e pressões sociais. Mais tarde, uma nova onda de uso da terra, já no período colonial (c. 1500–1900), somada a condições climáticas mais úmidas, moldou uma floresta distinta — com composição nunca antes registrada nos últimos 120 anos.
O estudo reforça que as florestas amazônicas, muitas vezes vistas como intocadas, são também paisagens culturais, moldadas pela interação entre povos antigos e o ambiente. Como afirmam os autores, os legados ecológicos da ocupação humana permanecem visíveis até hoje na diversidade e estrutura das matas do Vale do Upano.
Linha do tempo
- c. 770 a.C. – Primeiras evidências de cultivo no Vale do Upano
- 570 a.C. – Início do plantio de milho (Zea mays)
- 500 a.C. – 500 d.C. – Intensificação agrícola: corte e queima, silvicultura com Alnus
- 550 d.C. – Abandono aparente da “Cidade Perdida”
- 800–1200 d.C. – Ocupação secundária pelos Huapula
- 1500–1900 d.C. – Uso da terra durante o período colonial
- Últimos 120 anos – Floresta atual com composição inédita, fruto de legados ecológicos
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