
Segundo a ONG Bat Conservation International (BCI), com mais de 1.400 espécies, os morcegos são a segunda mais rica ordem de mamíferos e estão amplamente dispersos pelo mundo. Atualmente, os animais estão sob uma ameaça sem precedentes devido à destruição generalizada de seu habitat, às alterações climáticas aceleradas, às espécies invasoras e a outras ameaças. A agricultura seria um dos setores prejudicados pelo desaparecimento das espécies, pois, de acordo com pesquisas, morcegos de uma única caverna podem eliminar até 82 toneladas de insetos em um ano
Por isso, um projeto inserido no Plano de Ação Nacional para Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (PAN Cavernas do Brasil), coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav) pretende testar a viabilidade de portões (bat gates) em cavidades naturais subterrâneas. A instalação é feita em entradas de cavernas e/ou minas que permitem a passagem dos morcegos, mas impedem ou regulam a entrada de humanos naquelas cavernas. Vampyrum spectrum – Foto: Jennifer BarrosA bióloga e doutora em biologia animal, coordenadora do programa da BCI no Brasil e colaboradora em algumas ações do PAN Cavernas, Jennifer Barros, conta que a estratégia de instalação dos bat gates é proteger espécies de morcegos ameaçadas da perturbação antrópica, mas também proteger as pessoas, evitando sua entrada em cavernas com risco associado, como, por exemplo, elevados níveis de CO₂. Atualmente, a BCI atua no país com o intuito de frear a extinção de morcegos e promover o desenvolvimento e bem-estar das comunidades humanas por meio de iniciativas de conservação.
“Buscamos unir objetivos similares. No PAN, uma das ideias é identificar regiões propícias para criação de áreas protegidas e instalação de bat gates. Também queremos coletar dados que farão parte da avaliação das espécies ameaçadas. Hoje, temos muitas lacunas em relação a morcegos em diferentes áreas do Brasil, então é muito importante unirmos esforços entre as instituições para desenvolvermos esse trabalho”, afirmou Jennifer Barros.
Responsáveis por importantes e valiosos serviços de polinização, dispersão de sementes e controle de populações de insetos, incluindo várias pragas agrícolas, o papel dos morcegos é fundamental para o ecossistema natural e para a economia humana. De acordo com o professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e um dos interlocutores do PAN Cavernas do Brasil, Enrico Bernard, os serviços ecossistêmicos prestados pelos morcegos são de valor enorme para a população brasileira, e entre eles está a supressão de pragas agrícolas e de insetos que são vetores de doenças em seres humanos. “A agricultura brasileira, por exemplo, tem muito a perder caso essas espécies de morcegos desapareçam. Segundo nossos estudos, morcegos de uma única caverna podem retirar até 82 toneladas de insetos em um ano”, afirmou o professor.
Em relação à agricultura, Enrico explica que “só a produção de milho no Brasil hoje tem o benefício de 390 milhões de dólares por ano com a supressão de pragas, como a lagarta de cartucho e mariposas, sem contar com os benefícios obtidos pelos produtores de subsistência, que têm a ajuda dos morcegos na eliminação de insetos em suas plantações de milho, de caju, ou de mandioca, por exemplo”.
Além da instalação dos portões, o PAN Cavernas do Brasil também prevê entre suas ações a realização de cursos de boas práticas de manejo de morcegos para agentes de controle agropecuário e de zoonoses, a atualização de listas de cavernas com ocorrência de espécies cavernícolas ameaçadas de extinção e a inclusão de um módulo de anilhamento de morcegos no atual Sistema Nacional de Anilhamento, até então focado em aves. Pteronotus rubiginosus (atrás) e Glossophaga soricina (na frente) – Foto: Jennifer BarrosSobre o PAN Cavernas do Brasil
O PAN Cavernas do Brasil possui outras 43 ações, distribuídas em quatro objetivos específicos, visando cumprir o objetivo geral: prevenir, reduzir e mitigar os impactos e danos antrópicos sobre o patrimônio espeleológico brasileiro, espécies e ambientes associados, em cinco anos. Além disso, contempla 169 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.
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