Os tempos mudaram muito desde os anos 1990, quando o sociólogo britânico John Elkington cunhou o conceito do tripé da sustentabilidade. E o momento atual para o ESG – que se refere ao tripé ambiental, social e de governança das empresas – é animador, mas também perigoso, dada a politização em torno do assunto, avalia o também escritor e consultor, em entrevista a Época NEGÓCIOS.
Elkington esteve no Brasil na última semana para participar do South Summit Brazil, evento de inovação e empreendedorismo que reuniu 23,5 mil pessoas em Porto Alegre.
Ele falou também sobre a importância de se pensar mais em inovação nos campos social e de governança, do risco de cometermos erros com o rápido avanço da Inteligência Artificial e da necessidade de se combater o “green-washing” e outras formas de propaganda enganosa em relação à sustentabilidade.
Entrevista
Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
Época NEGÓCIOS – Como você acha que a inovação pode ajudar o ESG?
John Elkington – Acho que é muito fácil para as pessoas falarem sobre inovação e depois pensarem em como isso se aplica às prioridades ESG: meio ambiente, social e governança. O problema é que, quando pensam em inovação, muitas vezes pensam em tecnologia limpa, energia renovável, maneiras de abordar principalmente o lado ambiental da equação – embora, se conseguirmos energia renovável barata, isso também ajude no lado social e econômico.
Mas a inovação é realmente necessária e, muitas vezes, negligenciada no lado social. Você tem inovadores sociais e empreendedores sociais fazendo trabalhos extraordinários. Eu trabalho com esse tipo de pessoas há cerca de 15 anos, estou tentando trazê-los para o mundo dos negócios para conectá-los. E a governança também.
O lado social da agenda e a governança são as áreas onde a inovação é mais desafiadora. Essas são as duas áreas nas quais eu realmente adoraria ver as pessoas concentrando muito mais seus esforços e atividades de inovação.
ESG
Como você avalia o momento atual para o ESG?
É tanto um momento emocionante para o ESG quanto um momento muito perigoso, porque, claramente, o termo está sendo usado muito mais amplamente. Mas também é perigoso, porque desencadeou uma resposta política realmente problemática de pessoas que são ideologicamente contrárias ao progresso, mas especialmente se tiver um recorte social ou ambiental.
E vai ser desafiador por um bom tempo, porque não acho que essa resposta política vá desaparecer. Na Europa, você tem cada vez mais políticos de direita. Se o [ex-presidente Donald] Trump entrar em novembro nos Estados Unidos, ele retrocederia muito essa agenda, não apenas nos Estados Unidos, mas internacionalmente. Por isso que eu disse que é um momento perigoso e, novamente, por que tenho dito aqui: temos que acordar e fazer política.
I.A.
Hoje em dia a inteligência artificial está muito em alta. Como você avalia este movimento?
A inteligência artificial está se desenvolvendo tão rapidamente e em tantas frentes diferentes, que é muito difícil dizer: aqui está uma resposta simples. Porque a IA depende de quem a projetou, de quem a opera, do que ela pretende fazer e quais são as consequências pretendidas, o que eles realmente estão tentando fazer, quais são as consequências não intencionais.
Então, por exemplo, há programas iniciais de reconhecimento facial que não conseguiam ver pessoas de cor, rostos negros, porque os sistemas haviam sido feitos por jovens homens brancos. Estamos incorporando pontos cegos de muitas maneiras na tecnologia e isso significará que haverá erros e problemas ao longo do caminho.
O que realmente precisamos fazer muito mais é envolver a indústria agora, antes que cause muitos problemas. Então, sim, estou animado e, novamente, um pouco preocupado com a IA porque está vindo tão rápido, e toda vez que fazemos algo muito rápido cometemos erros.
Greenwashing e ESG
E como você avalia a questão do greenwashing. Temos feito avanços?
Cada vez que há um aumento no interesse pela agenda ambiental e de sustentabilidade, sempre surge o “ESG washing”. As pessoas – nem sempre com más intenções – ficam empolgadas, querem explicar por que o que estão fazendo é importante e cometem erros, porque provavelmente não entendem o que essas diferentes agendas exigem delas.
Ao longo dos anos, houve essas ondas de mudança, e cada uma delas gerou algum tipo de resposta de ‘washing’. Digo que não me importo se as pessoas cometerem um erro honesto uma vez, talvez duas vezes, mas se elas fizerem isso repetidamente, realmente teremos que puni-las muito duramente. E temos que puni-las não apenas para puni-las, mas para mostrar ao mundo que você realmente tem que prestar atenção. Você tem que ser sério. Você tem que ser honesto.
Fonte: Por Maria Carolina Abe/Época Negócios
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