Nos últimos cinco anos, grandes corporações dos setores de petróleo e química, como ExxonMobil, Dow, Shell, TotalEnergies e ChevronPhillips, fabricaram uma quantidade de plástico 1.000 vezes maior do que conseguiram remover do meio ambiente, conforme revelado por uma análise do Greenpeace. Essas empresas fazem parte da Aliança para Acabar com o Lixo Plástico (AEPW), uma iniciativa criada em 2019 com o objetivo de reduzir a poluição plástica global, comprometendo-se a retirar 15 milhões de toneladas de resíduos plásticos até o final de 2023.
A AEPW foi anunciada como um esforço conjunto para combater a crescente crise do lixo plástico, com foco em soluções como coleta, reciclagem e a promoção de uma economia circular. No entanto, documentos obtidos pela equipe Unearthed do Greenpeace e compartilhados com o The Guardian indicam que a meta de remoção de resíduos foi abandonada já em 2022, após ser considerada “ambiciosa demais” pelos membros da aliança. A análise sugere ainda que o verdadeiro propósito da aliança poderia ser o de desviar a atenção de propostas mais rígidas e eficazes para reduzir o uso de plásticos descartáveis, como a implementação de proibições ou restrições a esses produtos.
Durante o período de cinco anos analisado, a aliança produziu cerca de 132 milhões de toneladas de plástico. Assim. com destaque para dois tipos mais comuns, o polietileno (PE) e o polipropileno (PP). Em contraste, a quantidade de resíduos plásticos removidos foi muito inferior, totalizando apenas 118.500 toneladas, o que representa menos de 0,1% do plástico gerado por essas empresas. Essa disparidade entre a produção massiva e a remoção irrisória de resíduos ilustra a falha em cumprir as promessas de sustentabilidade. Além disso, compromete os compromissos assumidos com a redução da poluição ambiental, destacando a ineficiência de medidas voluntárias como as adotadas pela AEPW.
Dados do Greenpeace
A maior parte dos resíduos desviados pelas empresas da AEPW foi reciclada, seja por processos mecânicos ou químicos. Ou então foi enviada para aterros e convertida em combustível, conforme indicam documentos internos da aliança. Contudo, especialistas e defensores do meio ambiente têm criticado fortemente essas ações, considerando-as insuficientes diante da magnitude do problema da poluição plástica.
Will McCallum, diretor executivo do Greenpeace no Reino Unido, foi enfático em sua crítica. Ele afirmou que a aliança não propôs iniciativas adequadas para enfrentar a crise ambiental causada pelo excesso de plásticos. Para ele, é evidente que as ações adotadas até agora pelas empresas não são eficazes o bastante para reduzir o impacto negativo que a poluição plástica exerce sobre os ecossistemas e a saúde pública.
“As ações de reciclagem que eles divulgam são insuficientes diante da quantidade massiva de plástico que continuam produzindo. A solução está em cortar drasticamente a produção de plástico.”
Já o ambientalista norte-americano, Bill McKibben, classificou o caso como um exemplo claro de “greenwashing”. “A indústria do petróleo e gás, que é praticamente sinônimo da indústria de plásticos, usa essa tática há décadas para mascarar os danos que provoca.”
Posicionamentos
A produção global de plásticos continua a crescer de forma alarmante. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que, entre 2000 e 2019, a produção anual de plásticos duplicou. Dessa forma, alcançando 460 milhões de toneladas. No mesmo período, o lixo plástico também mais que dobrou, passando de 156 milhões para 353 milhões de toneladas. No entanto, a taxa de reciclagem permanece baixa, com apenas 9% desse total sendo reaproveitado.
Em resposta às críticas, a AEPW negou as acusações e afirmou, por meio de uma nota, que seu objetivo é promover inovações. Além disso, afirmou que procura criar soluções em larga escala para reduzir o impacto do lixo plástico no meio ambiente. Um porta-voz da organização destacou: “Nenhuma entidade sozinha pode resolver o problema do lixo plástico. Nosso trabalho é encontrar soluções que promovam coleta, triagem e reciclagem, fortalecendo uma economia circular para plásticos.”
Apesar das defesas da AEPW, o debate sobre a redução da produção de plásticos ganhou destaque nas negociações de um tratado global. Dessa forma, visa combater a poluição plástica, que estão ocorrendo em Busan, na Coreia do Sul. Especialistas destacam que medidas como a imposição de limites à produção de plásticos primários, como os polímeros, são fundamentais. Assim, alcançarão avanços concretos no enfrentamento da crise global de poluição plástica. Especialistas consideram essas ações fundamentais para alcançar resultados duradouros e diminuir significativamente o impacto ambiental do plástico.
*Com informações do Greenpeace e Um Só Planeta
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