O governo brasileiro tem apoiado medidas de controle climático desde que sediou o seu primeiro Dia da Terra global em 1992. Além disso, contribuiu fortemente nas reuniões anuais da ONU/COP e sediará a 30ª edição dessas reuniões em novembro de 2025 em Belém, no Pará. Essa conferência do clima é um encontro importante em que todas as nações apresentarão seus planos nacionais e iniciativas frente às mudanças climáticas. Pensando nisso, o painel “Brasil e as Mudanças Climáticas” -do primeiro dia do Horasis Global Meeting– trouxe pautas, questionamentos e provocações a respeito de ações práticas desde hábitos individuais e rotineiros até agenda ESG em gigantes nacionais. 

A mesa redonda foi mediada por Marcelo de Andrade, criador da Pro–Natura International e uma das figuras pioneiras do país na defesa do desenvolvimento sustentável. Assim, trouxe nomes como Demetrius Guiot, representando a AgrocarbonBR; Paul Malicki, em nome da empresa de aviação executiva Flapper e Rodrigo Ruggiero, responsável pelo planejamento de produção da Vale. 

A reunião girou em torno de temáticas e questionamentos como: “O que podemos fazer para apoiar o Brasil nessa questão?”, “Como os países podem informar melhor suas populações sobre rotas de mitigação?” e “Como os grandes poluidores podem ser controlados?”, motivando os representantes das grandes companhias presentes a trazerem soluções e práticas sustentáveis que já estão sendo implementadas na cadeia de produção e serviços de cada uma delas. 

Iniciativas

Rodrigo Ruggiero, iniciou a discussão trazendo iniciativas que vêm mudando o cenário interno da Vale e, consequentemente, da população capixaba. De acordo com a liderança, há um projeto já em prática que tange a esfera da inovação e do plano interno de descarbonização dos processos da empresa: o briquete. O briquete de minério de ferro é um produto da Vale que consiste na aglomeração de minério de ferro de alta qualidade a baixas temperaturas, ou seja, não necessitam da queima de carvão no seu processamento. A Vale desenvolveu o material há cerca de 20 anos e inaugurou a primeira planta de briquete de minério de ferro do mundo em dezembro de 2023, na Unidade Tubarão, em Vitória (ES). Uma segunda planta está prevista para ser inaugurada, ainda em 2024. ]

Além do briquete, a gigante nacional participa de um projeto socioambiental que substitui a matéria prima celulose por plástico reciclado e biodegradável na produção das mantas utilizadas para cobrir pilhas de minérios e evitar o alastramento de poeira poluente (o “pó preto”). Esse projeto foi desenvolvido em parceria com Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e envolve recapacitação e beneficiamento de 600 famílias de catadores de materiais recicláveis. 

“Não existe uma bala de prata! Se quisermos implementar de fato ESG e construir mudanças efetivas sustentáveis em nossos processos, temos que começar por algum lugar e usarmos de estratégias exequíveis e que causem, de fato, mudanças relevantes.”

Rodrigo Ruggiero – Vale mineração

Outro projeto destacado foi um acordo realizado em colaboração com a Companhia Espírito-santense de Saneamento (CESAN) em que a mineradora compromete-se em até 2026 deixar de utilizar água limpa para tratamento da mineração. O objetivo é utilizar-se de água despoluída, pós-tratamento do esgoto. Além disso, comentou também que, atualmente, todos os carros da frota da companhia já são abastecidos com etanol, sem exceção. 

Aviação brasileira

Paul Malicki trouxe os desafios da transição do combustível fóssil para o biocombustível dentro da esfera da aviação brasileira. Afirmou que apesar de, atualmente, o país enfrentar uma grande resistência no cenário dos combustíveis aeronáuticos, há uma capacidade de inovação do mercado através da eletrificação ou iniciar com a implementação do sistema híbrido dos BOEINGS brasileiros. Além disso, lançou o questionamento “Qual o tipo de país que o Brasil quer ser dentro do cenário ESG global?”

O representante fez um gancho com relação ao patamar que o Brasil ocupa na dinâmica global. Ele afirmou que o Brasil, ao seu ver, precisa sair de um estágio de país agrícola e investir em inovação e tecnologia, uma vez que é uma potência no mercado de etanol e combustível limpo. Em sua fala trouxe uma pesquisa que aponta que 70% dos passageiros europeus concordam com a compensação de carbono. Entretanto, quando questionados se estariam dispostos a pagar mais por essa iniciativa, esse número cai para 30%. Además, quando perguntado quantos deles já tinham pagado alguma vez por essa ação, apenas 5% se manifestaram positivamente. Quando trazida essa última pergunta para os passageiros no Brasil, esse valor é o equivalente a menos de 1%. 

Com esse levantamento, comprova-se, segundo Malicki, a grande importância do incentivo público em iniciativas privadas de transição energética e que para ela acontecer, de fato, é necessário essa viabilização através de saídas tais quais a população não arque sozinha com esses custos.

O painel

A reunião prolongou-se por 90 minutos de muito debate, exposição de ideias e trocas de iniciativas entre os convidados e o público presente. O painel enriqueceu-se, ainda mais, com uma rodada de sabatina entre todos os presentes, onde o público teve a oportunidade de esclarecer e provocar pautas e assuntos de relevância no cenário público-privado de governança e da agenda ESG. 

O Horasis Global Meeting está em sua 8ª edição global e é a primeira vez que a América Latina sedia o evento. Sua programação acontece até esse domingo (27). Acompanhe a cobertura completa aqui no portal e em nosso Instagram. 

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