Nesta semana, Mato Grosso será palco do debate global sobre os rumos da produção agropecuária e seu desenvolvimento sustentável para a segurança alimentar e nutricional do planeta, durante as reuniões do Grupo de Trabalho de Agricultura do G20 no Brasil. Os encontros ocorrerão entre os dias 10 e 14 de setembro, com a presença de ministros de estado de outros país e 21 delegações.
Serão realizadas reuniões técnicas, bilaterais e ministeriais, além de eventos paralelos, no Malai Manso, localizado no município de Chapada dos Guimarães (MT). Há previsão de elaboração de uma declaração ministerial conjunta.
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Roberto Perosa, afirmou que a semana será de intensas negociações entre os países integrantes do G20 para a inclusão de temas relevantes para o Brasil na declaração ministerial de agricultura do bloco.
Proposta de conversão de pastagens
Segundo ele, a recuperação e a conversão de pastagens degradadas e o crédito de carbono são temas ainda carentes de recepção pelo grupo. As reuniões técnicas vão ocorrer nesta terça e quarta-feira. Nos dois dias seguintes, serão realizados os encontros de ministros da agricultura dos países participantes.
“O crédito de carbono é um tema caríssimo ao Brasil, temos condição de produzir mais respeitando a floresta. Temos o programa de conversão de pastagens degradadas em áreas agriculturáveis, são quase 40 milhões de hectares que podemos fazer conversão, e isso o grupo ainda não recepcionou”, disse Perosa nesta segunda-feira (9/9), durante painel no Fórum Internacional da Agropecuária (Fiap), promovido pelo Canal Rural, em Cuiabá (MT).
“É um tema que será trabalhado com afinco para ser recepcionado como prática inclusiva que evita o desmatamento”, apontou.
Outro tema pendente de negociação é a adoção de legislações comerciais internacionais. Como a Organização Mundial do Comércio (OMC) está inoperante, alguns países defendem o estabelecimento de regras mundiais.
“Ainda não é aceito pela maioria dos países, que querem ter o fórum da OMC, mas ela hoje está com funcionamento parcial haja visto que órgão de apelação, que decide sobre punição, não tem indicação de membro americano. Com isso, nada pode ser julgado e todos processos ficam represados e não conseguimos ter medida efetiva da OMC”, disse Perosa.
Brasil diante do G20
O secretário ressaltou ainda que, na presidência do G20, o Brasil tem condições de mostrar as técnicas sustentáveis que utiliza no campo e não se submeter a “narrativas unilaterais”.
“Será uma semana de negociações intensas, pensando no momento mundial que passamos e no sentimento e orgulho de que temos produção mais sustentável do mundo, de que somos exemplo para o mundo e não nos submeteremos a narrativas unilaterais, seja de um país, seja de um bloco ou o desejo de uma pessoa”, afirmou. “Temos o que mostrar em termos de produtividade, agregação de valor e geração de oportunidades para pessoas no interior do país”, completou.
Estratégia do Brasil
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou durante o evento que a estratégia do Brasil para aumentar a produção de alimentos nos próximos anos será intensificar os sistemas produtivos e avançar sobre as áreas degradadas.
Fávaro disse que será preciso debater o financiamento mundial e o pagamento por serviços ambientais pela preservação das áreas de vegetação nativa no Brasil. Ele também ressaltou que a importância da inclusão e do combate à fome no país.
“O Brasil tem a sua estratégia. Vamos intensificar a produção sobre as áreas degradadas, não sobre floresta e Cerrado”, disse durante a abertura do Fórum Internacional da Agropecuária.
Fávaro ressaltou a necessidade de debater ajuda internacional para a produção sustentável no Brasil. “Precisamos debater também que o mundo participe por meio de financiamentos e pagamentos por serviços ambientais. E isso certamente virá oferecido pelo B20 [grupo de empresários responsável por sugerir políticas ao G20]. Formas de inclusão com sustentabilidade”, acrescentou.
“Não devemos buscar culpados”, diz presidente da ApexBrasil
O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, disse, então, que o país deve priorizar planos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas ao invés de buscar culpados pela fumaça que encobre o céu de boa parte do país nos últimos dias.
“Essa fumaça que estamos tendo em Cuiabá, que não deixa avião descer em Rondônia e no meu Estado [Acre] não tem que servir para ir atrás de culpados (…) Plano de mitigação para secas e incêndios talvez seja o caminho, não ir atrás de culpados. Avançamos muito, nunca usamos tanta tecnologia”, disse durante o fórum.
Dessa forma, segundo Viana, o ambiente de mudanças climáticas, de insegurança alimentar e transição energética deve ser fonte de inspiração para “olhar para frente”. Ele disse que a crise afeta todo o planeta.
“O mundo inteiro está vivendo crise. A crise climática é real, afeta o Mississipi, o Vietnã, o Brasil. O que podemos fazer para viver e enfrentar esses tempos?”, questionou.
“A fumaça está indo para a Argentina, afeta o ar e quem não acredita em mudança climática a fumaça ensina”, disse. Viana afirmou que as mudanças climáticas vão “afetar fortemente quem planta e quem cria se não adotarmos medidas”.
Perda de terra para desmatamento e pastagens ilegais
O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, defendeu, assim, a perda da posse da terra para quem cometer desmatamento ilegal. Durante evento em Cuiabá, ele disse que é preciso acabar com essa ilegalidade, mas também cobrar do restante do mundo a redução de emissões de gases de efeito estuda.
“Temos o desafio de combater as ilegalidades, pois nos acostumamos a viver com ilegalidades. Precisamos acabar com o desmatamento ilegal, senão vem a União Europeia e mete o dedo na nossa cara e faz o que está fazendo. Que tenhamos a coragem a dar ao desmatamento ilegal o mesmo tratamento do artigo 243 da Constituição Federal, que é o perdimento da terra para quem não respeitar o limite estabelecido na lei brasileira“, afirmou.
O governador mato-grossense disse ainda que o Brasil precisa melhorar a política de seguro rural para fazer frente às mudanças climáticas. “O seguro agrícola precisa ser mais robusto, precisamos alargar a base. Diante das mudanças climáticas, é algo que pode em algum momento salvar esse importante setor”, ressaltou.
Fonte: Rafael Walendorff / Globo Rural
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