Diamantes de laboratório e ouro reciclado ganham gigantes do luxo

Até onde vai o lado verde da estratégia, que busca sustentabilidade e mais flexibilidade no design?

Brilhantes feitos em laboratório podem ter formas e cores diferentes. — Foto: Divulgação -

Fundadora da pequena joalheria Aurora, em Belo Horizonte, a ex-fotógrafa Gabriela Barbosa, de 29 anos, vendeu sua primeira peça em 2020 a um amigo que presentearia a mãe. “Por causa do diamante, ela tem até medo de usar a joia na rua”, conta. O brilhante solitário de 5 quilates, entretanto, consiste em uma pedra forjada não por forças brutais sob a crosta terrestre, mas pelo maquinário de fábricas na China e na Índia que simula calor e pressão extremos. Ou seja, trata-se de uma pedra sintética, mas não menos chamativa. Já o ouro que recobre o anel? Este é reciclado.

Outras marcas do ramo e gigantes do luxo também vêm apostando em joalheria focada no upcycling, processo que dá novos propósitos a materiais que seriam descartados. A Pandora, em 2020, e a Prada, em 2022, anunciaram seu compromisso de utilizar apenas ouro reciclado em seus produtos. Luna Nigro e Julia Blini, sócias-fundadoras da Gaem, fabricante paulistana de joias, também trabalham somente com o metal 18k reutilizado.

Os diamantes criados em laboratório, praticamente idênticos aos naturais, fazem parte igualmente dessa onda sustentável. Produzi-los demanda até 95% menos emissão de CO2, além de não levar ao desmatamento e ao custo social de retirar a matéria-prima da natureza.

Afora isso, apostar nos sintéticos (que podem facilmente ganhar tamanhos maiores e assumir várias cores) torna-se uma oportunidade estética, afirma Maria Laffont, chief product officer da Tag Heuer, marca suíça de relógios que lançou seu primeiro artigo com a técnica no ano passado. “Adiciona algo diferente à liberdade criativa, bem como possibilita a implementação de diversas técnicas de design”, explica. O ator Ryan Gosling exibiu um cronógrafo da grife, decorado com diamantes rosa de laboratório, em sua apresentação musical no Oscar.

Inovação do mercado

Nos últimos três anos, o gemólogo Felipe Carlos Pereira, fundador do laboratório Ignius, tem visto diamantes sintéticos aparecerem com mais frequência em suas bancadas — nas quais realiza análises e emite relatórios de autenticidade. “Esse setor cresceu muito”, avalia, citando o custo-benefício. Hoje, a gema chega a custar até 70% menos do que a versão natural.

Pereira também destaca a importância de se mostrar cauteloso em relação à novidade. “Sua criação exige uso excessivo de energia; e tem também a questão do refugo industrial do material”, comenta. A depender da maneira como é feito, esse diamante pode não se formar corretamente em 50% dos casos, produzindo dejetos que não voltam para a cadeia produtiva.

Ouro reciclado

Reciclar ouro e prata também resulta em menor impacto ambiental do que retirá-los da natureza, mas há igualmente argumentos para ficar de olho. No começo de julho, a iniciativa Precious Metals Impact Forum publicou uma carta aberta na qual pedia por mais transparência na rotulação dos metais preciosos reutilizados. De acordo com o documento, sem uma regulação do mercado, tem sido possível vender ouro recém-minerado como se fosse reciclado.

O texto também nota a dificuldade de rastrear o produto depois de ele deixar as refinarias, desafio que força negócios a soluções experimentais. A Gaem, por exemplo, afirma contar com uma assinatura digital de todo material que coleta, garantindo sua procedência.

Já Gabriela, da Aurora, procura ficar sempre próxima de seus fornecedores, como os próprios clientes que querem se desfazer de ouro usado. Para ela, há um elemento afetivo em reaproveitar o metal. “Às vezes, a pessoa tem uma ligação emocional com a joia que era da mãe. Trata-se também de uma forma interessante de economizar dinheiro”, finaliza.

Fonte: Um Só Planta

Receba as principais notícias sobre sustentabilidade no seu WhatsApp! Basta clicar aqui