Atualmente, o Brasil tem um gasto perdido de 120 bilhões de reais -anuais- com a gestão e administração não inteligente de resíduos sólidos. Por que perdido? Por que não inteligente? Esse valor é investido em saídas não sustentáveis na “solução” para o lixo urbano do país. Aterros sanitários, descarte inadequado e coleta de lixo são alguns dos destinos desse valor. Entretanto, se o sistema de descarte e manejo dos resíduos brasileiros não for repensado, esse investimento pode ser ainda maior, chegando a 168 bilhões em 2050 – de acordo com um estudo realizado pela consultoria internacional S2F Partners.
A gestão brasileira de resíduos sólidos, ainda, é vista como atrasada e ultrapassada por Carlos Silva Filho, membro do conselho da ONU para temas de resíduos e sócio da S2F Partners. Ele é um dos responsáveis pela pesquisa realizada.
“O aprimoramento da gestão integrada de resíduos sólidos traz inúmeros benefícios e dentre eles a gente pode justamente mencionar a redução de custos em decorrência de uma gestão mais eficiente com a otimização dos recursos, o processo de regionalização para tornar esse processo economicamente viável, com uma mudança de paradigma para a valorização de resíduos e, principalmente, com a redução dos impactos ambientais na saúde, dos impactos de poluição que trazem um considerável ganho econômico e social, como demonstra esse estudo das externalidades”, observa.
Em 2020 foi realizado um levantamento que apontou que a gestão de resíduos brasileiros custou, aproximadamente, R$ 30 bilhões referentes a custos diretos de manejo. Além disso, R$ 90 bilhões foram referentes a custos indiretos gerados pelo modelo atual de baixa parcela de reciclabilidade. Além disso, associa-se o custo a negligência na coleta seletiva e destinação regular dos itens com potencial de reaproveitamento.
A pesquisa, também, mostra que as metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) até o ano de 2040 levaria o país a uma redução de 80% nos custos destinados ao processo, se fossem cumpridos os planejamentos de aumentar a reciclagem em 50% e cessar os lixões a céu aberto.
Resíduos sólidos x Poder público
Apesar desse valor exorbitante de R$ 120 bilhões ao ano ser uma realidade majoritária no Brasil, há municípios e estados buscando remar contra a maré e fazer a diferença dentro das possibilidades de cada região. Novo Hamburgo -Rio Grande do Sul-, por exemplo, investe em projetos que visam melhorias no sistema de coleta seletiva da cidade. Assim, há uma iniciativa que busca unir a coleta sustentável dos descartes urbanos à geração de emprego a catadores de materiais recicláveis. Com isso, a ação chegou à ONU ganhando uma premiação de reconhecimento à iniciativa verde.
Porém, mesmo o projeto sendo reconhecido internacionalmente, Enio Brizola -vereador do município- lamenta a falta de incentivo e investimento por parte do poder público, uma vez que o programa vem sofrendo com a baixa assistência de todos os setores.
“A cidade enfrenta diversos problemas. Nós gastamos na ordem de R$ 10 a 12 milhões por ano em coleta, transporte e deposição final. O nosso lixão aqui já faz uns 20 anos que ele não funciona mais. Então é tudo centralizado, coletado, centralizado e levado. O que não é reciclado, porque o que é reciclado hoje é em torno de 6% a 7%, é das mais de 80 toneladas produzidas diariamente na cidade”, explica.
Segundo um levantamento, caso as metas estabelecidas previamente no Planares fossem alcançadas, o custo final da administração dos resíduos sólidos no Brasil seria de, aproximadamente, R$ 22,5 bilhões anuais. Assim, os ganhos com a reciclagem e a gestão sustentável dos materiais seria superior a R$ 40 bilhões, no mesmo período. Em um cenário ainda mais otimista -em que reciclagem batesse os 55% em 2050- o custo do processo cairia para cerca de R$ 15 bilhões.
Ainda segundo o estudo, as esferas de problemas ambientais e cenários mais preocupantes diante dos números atuais do país são: o aquecimento global, a toxicidade humana e a formação de material particulado nos mais diferentes ecossistemas brasileiros.
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