Os 4 dias mais quentes já registrados indicam que o planeta se aproxima de "pontos de não retorno"

Desde julho de 2023, a temperatura média da Terra tem sido pelo menos 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais

Dias quentes
Foto: PixaBay -

Esta semana teve os quatro dias mais quentes já registrados e, segundo análise de cientistas do grupo Climate Central, 3,6 bilhões de pessoas enfrentaram temperaturas que seriam raras em um mundo sem queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas.

Desde julho de 2023, a temperatura média da Terra tem consistentemente excedido 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais — uma violação de curto prazo de um limite que, de acordo com os cientistas, não pode ser ultrapassado se a gente espera evitar as piores consequências do aquecimento global.

O “gostinho” de um mundo de 1,5 ºC mostrou como os sistemas naturais dos quais os humanos dependem podem ceder em meio a temperaturas elevadas, disse Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático na Alemanha, em entrevista ao Washington Post. As florestas mostraram menos capacidade de extrair carbono da atmosfera; o gelo marinho ao redor da Antártica diminuiu para níveis quase recordes, e o branqueamento de corais foi tão extremo que os cientistas tiveram que mudar sua escala para medi-lo.

“Os eventos extremos que estamos vivenciando agora são indicações do enfraquecimento da resiliência desses sistemas. Não podemos arriscar levar isso adiante”, disse Rockström.

Picos de calor

Os novos picos de calor desta semana vêm depois de 13 meses consecutivos de temperaturas recordes, alimentadas em parte pela mudança do planeta para um padrão climático El Niño, que tende a aquecer os oceanos, e pela poluição da queima de carvão, petróleo e gás. Segundo dados do Copernicus Climate Change Service, o ápice do aquecimento foi atingido na segunda-feira, com registro de 17,16 ºC – apesar de não parecer extremo, é a média de milhares de pontos de dados retirados do Ártico ao Polo Sul, em lugares que estão passando pelo inverno e meio do verão.

Os oceanos do mundo também estão mais quentes. Dados de Copérnico mostram que as águas ao redor de Taiwan estão de 2 a 3 ºC acima do normal. Enquanto isso, quase 2.000 estações meteorológicas ao redor do planeta registraram novos recordes diários de alta temperatura nos últimos sete dias, de acordo com os Centros Nacionais de Informações Ambientais.

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, órgão dos EUA, declarou no mês passado o fim oficial do El Niño, refletindo as condições de resfriamento no Oceano Pacífico tropical. O fim do verão no Hemisfério Norte também tende a reduzir a temperatura geral do planeta.

No entanto, a quantidade sem precedentes de carbono que retém o calor na atmosfera da Terra, e que está em seu nível mais alto em mais de 3 milhões de anos, significa que, mesmo sem o El Niño, o mundo permanecerá perigosamente quente. Muitos pesquisadores projetam que 2024 terminará como o ano mais quente já registrado, excedendo a referência definida em 2023.

Gravidade do evento

“As flutuações que estamos vendo são relativamente modestas em cima de uma tendência de aquecimento muito grande e de décadas”, disse o cientista climático Kim Cobb, diretor do Instituto da Brown University para o Meio Ambiente e a Sociedade. “Estamos dançando em torno de uma média climática que é muito perigosa para comunidades e ecossistemas ao redor do mundo.”

O pior do calor desta semana se concentrou na Antártica, onde as temperaturas estavam até 12 ºC acima do normal. “Parece que o aquecimento global está finalmente alcançando a Antártida, e isso é bem assustador”, disse Lynne Talley, pesquisadora da Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia em San Diego. Depois de perder uma quantidade inédita de cobertura de gelo durante a temporada de derretimento de 2023, disse Talley, a região não conseguiu se recuperar.

Estudos indicam que cruzar o limite de 1,5 ºC pode desencadear mudanças irreversíveis nos principais sistemas da Terra: o colapso da camada de gelo da Groenlândia, a perda completa dos recifes de corais tropicais, o degelo abrupto de parte do permafrost. O que o mundo está vendo agora, disse Rockström, é um “sinal preocupante de pontos de não retorno potencialmente próximos”.

Termômetro
Dias mais quentes preocupam especialistas – Foto: PixaBay

 Fonte: Um Só Planeta

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